Tabua de queijos
Eu gosto muito de queijos, de todos os tipos e formas.
Tem alguns que fazem tanto parte da minha vida que eu não uso mais o qualificativo: Quando eu falo QUEIJO quero dizer queijo parmesão.
Acho que eu gosto de queijo parmesão desde antes de nascer, eu nem lembro desde quando, mas eu gosto muito.
O Parmesão é danado: Quanto mais maduro, mais gostoso. A maturação é, basicamente, o processo de perda de umidade. Eu gosto de deixar quieto num canto seco e fresco e vou usando.
O Gorgonzola é único: não existe meio termo: Ou você gosta e come até quando está sonhando ou você detesta e nem quer ver a cara. Tem cheiro forte, sabor acentuado e muita gente torce o nariz para o seu “mofo”. Esse é o segredo do processo com fungos que o torna tão especial.
O Provolone é saboroso: É um queijo defumado que dura muito, você pode comprar hoje e ficar uns 40 a 50 dias com ele em bom estado de sabor. Tem sal e, quando consumido em grande quantidade "empanturra". O melhor exemplo é a Provoletta: um prato feito com uma fatia de queijo grande (25 cm diâmetro) com uns 240 g. Nem pense em pedir outro prato.
O Mussarela é o "queijo de pizza": Até as pizzas que não usam queijo, usam umas fatias de mussa como cama. Há quem peça pra tirar, eu nem ligo.
O Frescal é o queijo branco: seu nome mesmo é queijo minas frescal. É um queijo bem macio e ótimo pra dietas. Muitos usam esse queijo no café da manhã e lanches. Vive na geladeira das casas. Eu prefiro deixar fora da geladeira por uns 15 minutos antes de servir – acho que pega mais sabor.
O Requeijão é "queijo mole": Meus filhos assim chamavam, até o dia que descobriram que Catupiry também era queijo mole. Desse dia em diante não prestou.
O Camembert é elegante: É um queijo de casca suave e massa mole, ideal para comer com doces. Quando eu não como ele sem mais nada, uso pra fazer Também risotos. Um camarão com risoto de camembert com uma taça de vinho branco riesling é dos deuses.
O Brie é primo do camembert: Semelhante em forma e aspecto, também é um queijo de casca suave e massa MENOS mole do que o cambembert. São tão parecidos que você pode ter comido um achando que era o outro.
Tem tantos outros que esse artigo daria um livro.
Falando nos queijos, lembrei de um dia lá no passado que eu acabei entrando numa dessas excursões que viaja a Europa em 35 dias. Depois que passa a terceira semana desse sobe e desce, você fica contando quanto falta pra voltar pra casa e ter o conforto que você tanto despreza, né não?
Tanto a Maria como eu queríamos muito voltar e passar por uns lugares daqueles maravilhosos, Lisboa, Madrid, Paris, Roma e tal.
É aqui que começa o meu périplo. Num papo animado com outros amigos num jantar lá em casa, a Maria abriu o jogo. Não deu outra.
Sabe palpite de sogra? Igual. Teve de tudo, até acabar o vinho. Quando eles foram embora eu fiquei na orelha com uma saga: Vou me esbaldar de comer queijos e tomar vinhos na Europa. Nem quero saber de mais nada. Museu, capela, parque, tô fora.
Dito e feito: primeira parada Lisboa – Que lugar!
Depois de jogar as malas no hotel, "moço onde fica essa rua chamada Portas de Santo Antão?".
A resposta é prosaica. O rapaz me pegou pelo braço e, levando para a porta de saída dizia "Não tens o que saber, não tens o que saber" e apontava pra frente.
UM A ZERO - não tens o que saber = é logo ali em frente é só seguir reto.
Feito esse primeiro estágio linguístico, nos atiramos para as Portas de Santo Antão, que é um paraíso de restaurantes especializados em bacalhau à la Gareiro com batatas a murro - IMPERDÍVEL.
Na hora que o garçom nos trouxe o menu, eu li "TABUA DE QUEIJOS".
Pedi no ato. - Perdição. Veio um pedaço de tora de madeira assim como essa da foto com um pouco de cada queijo, inclusive uma iguaria que é dos deuses chamada QUEIJO DA SERRA DA ESTRELA. Só isso, pão e vinho verde Alvarinho nem precisa mais nada.
Acontece que, naquele sobe e desce do ônibus da excursão tinha a parada no "EXCHANGE".
Naquele tempo a gente descia pra trocar de dinheiro - cada lugar tinha a sua própria moeda. E nessas descidas a gente acabava descobrindo - para o bem e para o mal - que diabo de idioma os caras falavam.
Então, num desses sobe e desce, subindo de Lisboa rumo a Paris, caímos num lugar que a gente só ia ficar por três horas e era hora do almoço.
Eu perguntei pro guia qual era o idioma que era falado ali e ele me respondeu num Castelhano versão Ibero-domênico-argentina uma coisa que eu entendi ser FRANCÊS.
Bom, de francês eu só vi os livros enquanto a Claire estudava no colégio e, à bem da verdade eu não aprendi mais nada além da cor ruiva dos cabelos dela e do perfume Chloè que ela usada delicadamente.
Daí, entrei num sufoco de pedir "TABUA DE QUEIJOS" em francês, como é mesmo que se diz isso?
Sei lá, na hora só vinha aquele olho azul doído de lindo de boneca dela e ela me ensinando com biquinho "la poupée est sur la table ... répète avec moi", que foi a única coisa que eu lembrava da Claire, que delícia. Eu bem que tentei com ela um "avec moi" mais próximo ... depois eu conto só dela.
DOIS A ZERO - Perfume francês atrapalha na aula de qualquer matéria
Aí, como numa equação de primeiro grau, eu juntei TABLE com CHEESE e ... EUREKA!
Quando a garçonete sorridente falou
"Qu'est-ce que vous voulez?"
eu virei pra Maria e disse
"o que ela disse?".
Quando a garçonete sorridente falou
"Qu'est-ce que vous voulez?"
eu virei pra Maria e disse
"o que ela disse?".
- Ela quer saber o que você quer. Fala pra ela.
Enchi o peito:
- Oh yes, I´d like a table of cheese.
A garçonete sorrindo ainda, pra confirmar o pedido, me perguntou
"CHEESE, monsieur?"
"CHEESE, monsieur?"
- Cheese, of course, thank you garçonete.
Mandei assim mesmo.
Thank you garçonete. (sic)
Thank you garçonete. (sic)
Aí eu virei pra Maria e disse, bem empavonado:
Tá vendo, é só falar um pouquinho de inglês que todo mundo entende.
Tá vendo, é só falar um pouquinho de inglês que todo mundo entende.
A resposta da Maria foi:
Ãhãh
Ãhãh
Passado algum tempo vem a sorridente garçonete com um cheese salada em pão de hambúrguer.
Arrepiei feito gato quando vê a dona chegando com o chinelo na mão por ter feito besteira.
- Voulez-vous du vin, monsieur?
- No, thank you a lot. (sic)
Nessa hora a Maria virou-se pra mim e disse:
- Ela quer saber se você não quer vinho?
- Passo.
- Ela entendeu seu pedido direitinho, né, mané? Enjoy it, baby!
E fez um sinal pra mim com "pai-de-todos" esticado.
Que horror, uma mulher fina e tão bem educada.
Que horror, uma mulher fina e tão bem educada.
TRÊS A ZERO - Tabua de queijos é tudo MENOS TABLE OF CHEESE.
Capisce ?
Tem coisa pior, mas eu conto outra hora.
Na moral: Queijo só não é bom quando acaba.
Mangia che te fà bene
Bacci mile
Siamo tutti oriundi
Marcio Martini
29/06/2020
#ProsaGostosa
http://prosagostosa.blogspot.com/2020/06/tabua-de-queijos.html